quarta-feira, 27 de abril de 2011

Versos Íntimos


Augusto dos Anjos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

terça-feira, 19 de abril de 2011

"Ser feliz..." - Fernando Pessoa


"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise…
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida…
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos…
É saber falar de si mesmo…
É ter coragem para ouvir um "não"…
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta…
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Brandi Carlile - The Story

A História

Todas as linhas que contornam o meu rosto
Contam a história de quem eu sou
Tantas histórias sobre onde eu estive
E como eu cheguei onde estou
Mas essas histórias não significam nada
Quando você não tem ninguém com quem partilha-las
É verdade... Eu fui feita para você

Eu escalei os topos das montanhas
Nadei através de todo o oceano azul
Atravessei todas as linhas e quebrei todas as regras
Mas querido, eu quebrei todas por você
Porque mesmo quando eu estava destroçada
Você me faz sentir como tivesse acabado de ganhar o euro milhões
sim, você faz! Eu fui feita para você

Você vê o sorriso que está na minha boca
Ele está escondendo as palavras que teimam em não sair
E todos os meus amigos que me acham abençoada
Eles não sabem que minha cabeça é uma confusão
Não, eles não sabem quem eu sou de verdade
E eles não sabem aquilo por que eu passei como você sabe
E eu fui feita para você

Todas as linhas que contornam minha face
Contam a história de quem eu sou
Tantas histórias sobre onde eu estive
E como eu cheguei onde estou
Mas essas histórias não significam nada
Quando você não tem ninguém com quem partilha-las
É verdade... Eu fui feita para você
É verdade... Eu fui feita para você

terça-feira, 12 de abril de 2011

Assim eu vejo a vida




A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Cora Coralina

sábado, 9 de abril de 2011

O Passado...



Homens sem pressa,
talvez cansados,
descem com leva
madeirões pesados,
lavrados por escravos
em rudes simetrias,
do tempo das acutas.
Inclemência.
Caem pedaços na calçada.
Passantes cautelosos
desviam-se com prudência.
Que importa a eles o sobrado?

Gente que passa indiferente,
olha de longe,
na dobra das esquinas,
as traves que despencam.
-Que vale para eles o sobrado?

Quem vê nas velhas sacadas
de ferro forjado
as sombras debruçadas?
Quem é que está ouvindo
o clamor, o adeus, o chamado?...
Que importa a marca dos retratos na parede?
Que importam as salas destelhadas,
e o pudor das alcovas devassadas...
Que importam?

E vão fugindo do sobrado,
aos poucos,
os quadros do Passado.

Cora Coralina

domingo, 3 de abril de 2011

FAVELÁRIO NACIONAL




Quem sou eu para te cantar, favela,
Que cantas em mim e para ninguém
a noite inteira de sexta-feira
e a noite inteira de sábado
E nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
...
Aqui só vive gente, bicho nenhum
tem essa coragem.
...
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?