segunda-feira, 22 de novembro de 2010

NEGRINHO

OLIVEIRA SILVEIRA

Um naco de fumo escuro

negrinho

da tua cor, no monturo.

Um toco de pito aceso

negrinho

cor de teu sangue indefeso.

Muito estancieiro safado

negrinho

formigueiro à beira-estrada.

Contra as manhas dessa malta

negrinho

se vai de cabeça alta.

E peço: clareia o rumo

negrinho

de teus irmãos cor de fumo.

domingo, 14 de novembro de 2010

TRADUZIR-SE


Uma parte de mim

é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar