domingo, 14 de novembro de 2010

TRADUZIR-SE


Uma parte de mim

é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

Um comentário:

F@bio Roch@ disse...

Querida amiga,

Que lindas linhas...então, só um mestre como Fereira Gullar, falaria tão bem de mim assim...hum, eu me achei, eu me encontrei...ah, me emoncionei!!

Lindo, lindo!! Parabéns!!

Bom feriado...